30 agosto 2004

Melancólico... porque não?!

Sentado na penumbra do quarto, só com esforço me ergui, para alcançar a janela da eternidade. Abri-a e voltei-me a sentar, sem sequer necessitar. Não era porém uma opção, era uma monotonia, um vazio que perturbava o estar e que, em silêncio, tanto parecia poder dizer (e eu ouvir).
No olhar distante, fitando a totalidade, e também o nada, rompia a sensação nítida da perda mas, no fundo, sabia que tudo não teria sido mais que uma vulgaridade que parasita qualquer dia-a-dia! Mas custa, ainda assim custa. Pensar no amanhã como um continum do hoje quando, na sua essência, pertencem a dimensões transcendentemente diferentes... e o que fazes aqui agora? O que és tu? Quem sou eu? E nós? Pah... a distância cria divergências e tudo parece já nem ter sentido! O choro apetece, e até flui, já não é como em tempos uma simples lágrima de sangue que insistia em não sair... e salgava por dentro toda a alma. Agora não, todo o rosto escorre lágrimas, que aliviam, mas que custam a secar, porque a ferida essa vai custar a sarar! Expectativas frustradas, contexto inexplicável, situação desesperante... porque nunca a indecisão foi maior! O que fazer? Dar tempo ao tempo seria a resposta dos mais sábios, dos mais capazes e metódicos... mas, até onde aguentar?! E as noites perdidas no desconhecido, as imagens que surgem a toda a hora e que parecem tão reais (como já o foram)... como deixam a ingratidão e a decepção estragarem mais um dia! Sempre em vão... Ai porquê não revirar a página e forçar, ser diferente por uma vez e prometer que o livro já está lido e a lição por demais aprendida... que melancolia esta, já agora que a noite se pôs! É por isso, e até sabes, que duvido e não resisto, ou resisto e não duvido de que um dia ao acordar, mais um sonho vou encontrar!!! E o belo onde ficou? Já passou, cumprimentou, trouxe alegria... para mim foi pura fantasia!

26 agosto 2004

Tempo envolvido

Até podia ter acontecido... mas no fundo sabia que não seria capaz, preferia nem pensar nisso sequer, não pensar para não sofrer! Na rotina que me habituara a viver os desejos eram sempre os mesmos, as emoções sempre as mesmas e o futuro parecia ser já uma pré-determinação. O amanhã já chegara!
De noite para noite a expectativa do difícil transformava-se no impossível, no não concretizável, fruto das incertezas da mente, de uma fragilidade incapacitante... mera inconsistência!
Um morder de lábios, cada beijo enfatizado de importância, aquele sorriso puro e bonito como o reflexo do sol ao recolher...mas sabia: o sol voltava certamente enquanto tu desaparecerias um dia, sem deixar destino.
A vida, por vezes, faz-nos questão de mostrar aquilo que sabemos estar escondido em nós... no calor das emoções senti-mo-nos capazes de tudo, nem sequer percebemos que algumas vezes não temos condições para partilhar a felicidade!
O lanço de escadas que gerou esperança, o local onde prometemos ser os mais felizes, a construção de sonhos que tanto demorou e que, de repente, se desmoronou! Será que devemos nós fazer juras perante o desconhecido?! Sonhar algures na vida é bom, mas viver a vida a sonhar não será arriscar demais?! De que serve tudo aquilo que vai além do momento?! Que garantias recolhemos... senão aquelas que emergem do que desfrutamos agora, neste segundo, e que já ninguém nos é capaz de roubar... por incongruência!
Mas não, nunca se deve amar demais, independente do que isso possa significar. Se o hoje fosse como queria ontem, estaria ainda apaixonado talvez, mas saberia que às vezes não é a quantidade de amor que importa numa relação, mas sim a sua gestão! Podia ter sido assim, falsa mentira porém.

19 agosto 2004

O silêncio da omnipresença

Aquela visão que não consigo encontrar em mais ninguém, aquela beleza real mas também (há anos) moldada aos sentidos... se te conheço?! melhor do que a mim próprio, orgulhosamente!! As visitas já menos frequentes, a dissipação lenta daquilo que era, o nevoeiro que se aproxima e aumenta o meu medo... ele aproxima-se devagar, fecha até mais nada restar; mas não me cerca, porque esse é o teu lugar e já não o meu! A ânsia em partir, a solidão que faz perceber como o destino pode trazer a felicidade a uma pessoa... e como também a pode magoar intensamente..., a esperança ridícula, a paisagem lenta do exterior, a procura incessante e interminável de uma razão nas multidões, o sofrimento da tua ausência, a incógnita de um futuro já de si deveras estranho...
As palavras que se dizem, as promessas que tantas vezes se fazem, e que não são mais do que absurdos, que não compreendemos em tempo útil! Ignorar o destino é estúpido, mas até os estúpidos têm sentimentos, e constituem em seu torno a coisa "mais importante" de suas vidas!
Os sinais que invadem nossa experiência são muitas vezes avisos desprezados, relativizados, ignorados até ao dia fatal, até ao momento em que... passam a ser o motivo único para não se temer o futuro! E o sonho morrerá?! Não, esse é imortal, mas nada mais será do que um simples alívio...
A vida passa, as emoções já não são, depois de tudo, percepcionadas como reais; a dúvida apodera-se da realidade, o sentido da existência é posto em causa... até apareceres, e eu compreender, finalmente!! Mas, onde estás?? Surge, vem anular este sentimento de culpa e acabar com este silêncio da omnipresença...


17 agosto 2004

Uma questão de Umbigo...

Mais do que um aspecto cultural, é um fenómeno de extrema visibilidade na nossa sociedade. Poderia-lhe chamar egocentrismo, egoísmo ou até vaidade, mas prefiro simplesmente denominar-lhe "fixação no próprio umbigo". E que bem que tal lhe assenta !!
Passamos toda uma vida a falar em solidariedade, julgamo-nos felizes por abordar a lealdade, até respiramos mais abruptamente quando uma oportunidade surge para enfatizar o respeito! E depois?! O que vemos acontecer dia após dia?? Precisamente isso: défice de solidariedade, que põe em causa a lealdade que, por sua vez, não é mais que uma tremenda falta de respeito! Pois é, mas colocar-mo-nos no lugar do outro sempre foi a mais árdua das exigências, hem?! Não é fácil, de todo. Requer grande capacidade de compreensão, de sacrifício e, sobretudo, tremenda força de vontade a cada momento... No fundo, mas bem lá no fundo, não é mais do que abandonar o próprio umbigo por alguns minutos (que sejam); todavia isso apresenta-se sistematicamente como algo tão complicado de alcançar... tão difícil que "nem valerá a pena tentar" !!! Ironia?! Sem dúvida. Perceber o outro é talvez um desafio, mas que nem todos estão dispostos a aceitar. Por medo, por desconforto, por teimosia ou tão somente por comodismo! Pobreza de espírito, pois que não se convencem que só serão capazes de compreender e aceitar os outros quando se compreenderem e se aceitarem a si mesmos... Consome tempo, tempo é dinheiro, mas não será este um "bom dinheiro" a despender, para individualmente estarmos a contribuir para uma maior cidadania? Ou preferem continuar a construir um mundo pior?! São opções...



16 agosto 2004

Respeito não pode ser submissão!

Pode à primeira vista parecer evidente, todos parecem saber disso, todavia, não raro é encontrar cenários que vulgarizam e colocam em questão essa "tão clara evidência". Liberdade é como ar para respirar, respeito é como que partilhar esse ar, renunciando ao egoísmo, com bom senso e equilíbrio qb.
Insubmissão !!! Grito que é preciso aprenderes, praticares, porque tudo na vida se treina, até mesmo as coisas mais recônditas. Se, por outro lado, aderes à submissão tornas-te dependente, sentes-te na prisão das emoções, e sentimentos de incapacidade e infelicidade apoderam-se de ti, com subtileza.
Respeito e submissão: coisas tão distintas, como poderá alguém confundi-las?! Patético é pensarmos que agradamos sendo submissos; que ilusão, não se tornará a exigência a mais feroz das crueldades? Revolta-te sempre, mas sem dramas. Assume uma posição, clara e flexível, mas nunca manipulável ou radical! Ao fazê-lo, com moderação e sensatez, estás concerteza a demonstrar respeito, por ti e pelos outros, sem porém percorreres a ponte da submissão. Ao seguires o que sentes, sem rodeios nem receios, só estás a congratular a honestidade e frontalidade, usufruindo do teu direito à opção; e não será isso o maior sinal de respeito por tudo o que neste mundo se quer límpido e transparente?!
Claro que nem sempre conseguimos ser assim, infelizmente. Mas que mais perdemos em tentar? Porque não começar pelas mais pequenas coisas do dia-a-dia pois, afinal de contas, não serão estas as mais importantes de toda uma vida?!!! Vive, pelo menos enquanto podes! Vida é sentimento. Liberta-te sem esqueceres a liberdade dos outros.


12 agosto 2004

It's better to burn out than to fade away

Em tudo na vida, mais sensato do que ser expulso é sair convictamente, sem recuos, fazendo jus ao sentido real da palavra "antecipação". Dúvidas e anseios apenas atrapalham o bem-estar, instabilidades permanentes e ríduculas tornam a realidade um caos efectivo e o medo, esse, apenas faz com que os teus piores receios se concretizem! Para ser grande há que ser inteiro, coerente e consistente, justificando as opções pela convicção e não tanto pela conformidade. Crescer é difícil, é-lo para todos, às vezes requer desiquilíbrios e desconforto, mas quantas vezes precisas caír, quantas vezes queres que alguém te agarre, te suporte, até aprenderes a segurar-te por ti mesmo(a) ?!
Quando teimas, quando renegas essa ajuda, quando não te dás para te "defenderes", então, percorres um caminho sinuoso, em que te magoas e, mais que isso, arriscas-te a fazer sofrer. Mas certo é que ninguém aguenta para sempre, tudo tem o seu limite e, qualquer dia, a tua ajuda acaba por perceber o quão difícil é ser compreendida e aí mais uma oportunidade tu perdeste, mais uma pessoa magoaste, mais uma cabeçada deste à toa, só por não teres habilidade para lidar com as pessoas que gostam de ti! Burn out or Fade away, a opção nem sempre é fácil, mas todos acabam por chegar à solução da problemática...

10 agosto 2004

(+ uma) Divagação sobre o Amor

Amor... Todos falam nele, ninguém o define! Se existe? Acredito que sim, e desgraçado daquele que não acredita, independentemente dele realmente existir ou não. Digamos que vai surgindo, mas camuflado em relação ao desejável. Amor, algo que implica prazer, implica alegria, fantasia e magia... mas onde cabe também a dor, a lágrima e o sofrimento! Tudo é efémero, ninguém ama para toda a vida, pelo menos sempre de igual forma. Essa não conformidade no sentir dos extremos provoca instabilidades, incompreensões, dissonâncias... e aí tudo fica difícil, não se tolera, não se pondera o esforço de transferência para o lugar do outro e, então, a amor tende a dissuadir, a querer fugir para ressurgir. A barreira entre amor e ódio emerge muito ténue, todavia é tarde de mais, e o sentimento que se sente por descuido poderá por si só ser o ponto de partida para a destruição de qualquer emoção positiva perante o outro! É tempo pois de partir, pois que tudo na vida se transforma e o tempo, esse, continua a ser o nosso melhor companheiro...
E será que existe a tal pessoa certa para cada um de nós?! Talvez, mas quando se sabe que a encontramos?! Resta-nos senti-lo, tão somente.

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Estranho Mundo

A vinda para este mundo não foi uma escolha, não foi uma opção, foi tão só uma condição, a qual aceitamos porque não é suposto questionarmos, porque não é razoável a indignação, nem tão pouco de bom senso a eventual revolta. Uma vez cá instalados há que usufruir de tudo o que de bom nos emerge aos sentidos, pois só assim teremos capacidade para suportar e lutar contra as adversidades e tudo aquilo que neste estranho mundo foi criado "menos bem".
Este blog não é mais que um espaço de reflexão, onde se dá atenção à emoção, ao sentir, ao viver da alma, que, quer queirámos quer não, está presente no dia-a-dia de cada um. Quem gostar lê, quem não gostar ignora, isto tal como uma história de vida tem vários episódios, no qual se retratam épocas, feitios e momentos marcantes. É partilha, é identificação, é acima de tudo introspecção individual. Neste campo, ao contrário do que acontece neste mundo, a opção é de todo uma dimensão pessoal e voluntária. Obrigado.