26 agosto 2004

Tempo envolvido

Até podia ter acontecido... mas no fundo sabia que não seria capaz, preferia nem pensar nisso sequer, não pensar para não sofrer! Na rotina que me habituara a viver os desejos eram sempre os mesmos, as emoções sempre as mesmas e o futuro parecia ser já uma pré-determinação. O amanhã já chegara!
De noite para noite a expectativa do difícil transformava-se no impossível, no não concretizável, fruto das incertezas da mente, de uma fragilidade incapacitante... mera inconsistência!
Um morder de lábios, cada beijo enfatizado de importância, aquele sorriso puro e bonito como o reflexo do sol ao recolher...mas sabia: o sol voltava certamente enquanto tu desaparecerias um dia, sem deixar destino.
A vida, por vezes, faz-nos questão de mostrar aquilo que sabemos estar escondido em nós... no calor das emoções senti-mo-nos capazes de tudo, nem sequer percebemos que algumas vezes não temos condições para partilhar a felicidade!
O lanço de escadas que gerou esperança, o local onde prometemos ser os mais felizes, a construção de sonhos que tanto demorou e que, de repente, se desmoronou! Será que devemos nós fazer juras perante o desconhecido?! Sonhar algures na vida é bom, mas viver a vida a sonhar não será arriscar demais?! De que serve tudo aquilo que vai além do momento?! Que garantias recolhemos... senão aquelas que emergem do que desfrutamos agora, neste segundo, e que já ninguém nos é capaz de roubar... por incongruência!
Mas não, nunca se deve amar demais, independente do que isso possa significar. Se o hoje fosse como queria ontem, estaria ainda apaixonado talvez, mas saberia que às vezes não é a quantidade de amor que importa numa relação, mas sim a sua gestão! Podia ter sido assim, falsa mentira porém.